Em uma indústria ainda refém de estéticas eurocentradas e narrativas distantes da realidade latino-americana, Entre as Estrelas se posiciona como uma das obras mais importantes já produzidas no Brasil.
Desenvolvido pelo Split Studio, o jogo foi reconhecido internacionalmente ao vencer o Unity for Humanity 2025, iniciativa global que celebra jogos com impacto social genuíno.
Mais do que um feito técnico ou estético, esse prêmio representa o alcance de uma causa — a voz do povo Guarani-Kaiowá ressoando, agora, em escala mundial.
🎬 O Espírito do Pantanal Toma Forma
Com visual deslumbrante, o trailer de Entre as Estrelas apresenta uma jornada emocional pelas terras do Pantanal, misturando mitologia Guarani-Kaiowá com conflitos reais. A animação quadro a quadro chama atenção pela delicadeza artística, enquanto a trilha sonora evoca ancestralidade e resistência. É um convite para sentir — antes de jogar — a alma do projeto.
🏆 Um Prêmio e Uma Missão
O Unity for Humanity é um dos reconhecimentos mais respeitados no cenário global de jogos independentes com viés social. Em 2025, mais de 350 projetos foram inscritos — Entre as Estrelas foi um dos cinco vencedores globais e o único representante da América Latina.
Jonas Brandão, Diretor do Split Studio, destacou o impacto que a conquista traz ao projeto:
“Vamos investir esse recurso para tornar o jogo ainda mais potente, mais imersivo, e para transformar realidades.”
A premiação valida não apenas a qualidade artística e técnica do game, mas seu compromisso com a transformação cultural. O apoio de US$ 50 mil da Unity permitirá a conclusão de uma versão alpha em 2026, além de fortalecer a relação com as comunidades indígenas envolvidas.
🌿 Uma Jornada Espiritual de Superação
Entre as Estrelas apresenta a história de duas irmãs Guarani-Kaiowá em busca de reconexão com sua ancestralidade após um evento traumático que rompe os laços com sua comunidade. A trama, embora fictícia, é inspirada em relatos reais de violência e apagamento cultural, que assolam os povos originários até hoje.
Ao adotar uma estrutura de combate por turnos e progressão narrativa ramificada, o jogo não apenas diverte: convida à escuta, à empatia e à reflexão. Não se trata de um “jogo indígena”, mas de um jogo com os povos indígenas, onde eles são co-autores da sua representação.
🎨 Estética Artesanal e Alma Sonora
Visualmente, Entre as Estrelas remete à poesia visual do Studio Ghibli, mas com uma assinatura própria. O jogo é desenhado à mão, com cenários que traduzem o Pantanal como um organismo vivo, cheio de cores simbólicas, elementos místicos e atmosfera densa.
Na trilha sonora, os desenvolvedores optaram por usar instrumentos tradicionais brasileiros, como berimbau, tambor e flautas nativas, gravados em parceria com músicos locais. O som aqui não é apenas ambientação, é uma extensão espiritual da narrativa.
🤝 Tecnologia com raízes vivas
Um dos maiores méritos do projeto está na inclusão direta de profissionais indígenas em seu desenvolvimento. Desde consultorias linguísticas e narrativas, até a criação visual de símbolos e elementos culturais, Entre as Estrelas se constrói em diálogo e não apropriação.
Isso o posiciona em outro patamar dentro da discussão sobre representatividade nos games — não se trata de protagonismo simbólico, mas de protagonismo real.
🚀 O que vem pela frente
Disponível para ser incluído na Lista de Desejos da Steam, Entre as Estrelas já começa a formar sua comunidade de apoiadores. O Split Studio planeja lançar uma versão jogável em 2026, com a proposta de expandir o universo narrativo e educacional do projeto.
Além disso, há possibilidades futuras de levar o projeto para escolas, exposições culturais e até eventos internacionais sobre direitos indígenas, transformando o game em ferramenta de memória e resistência transmídia.
✨ Games como Portais de Vozes Ocultas
Entre as Estrelas é mais que um jogo bonito ou bem executado, é um símbolo de maturidade para a produção nacional. Um lembrete de que games são, sim, território fértil para histórias com raízes profundas, invisibilizadas e poderosas.
Ao levar os Guarani-Kaiowá para o centro da experiência, o jogo faz algo que poucos títulos ousam — nos convida a escutar.
Escutar o passado, os ancestrais, os traumas e os futuros possíveis. Escutar, entre as estrelas, aquilo que a terra ainda grita.
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Mundozero- 0 Comment
- Jogos Brasileiros
- 5 de maio de 2025
