
Copycat é uma obra narrativa desenvolvida pelo estúdio australiano Spoonful of Wonder, e publicada em setembro de 2024 pela Neverland Entertainment, com distribuição no Brasil pela Nuuvem.
Disponível para PC via Steam, o jogo se apresenta como uma experiência interativa e emocional que mistura elementos de aventura com simulação leve, vista pelos olhos de um gato.
Inspirado por experiências pessoais da criadora Sam Archer, a proposta do jogo gira em torno de uma premissa simples, mas carregada de complexidade, apresentando os efeitos do que acontece quando você é substituído por alguém idêntico a você.
Com um estilo visual envolvente e um forte foco narrativo, Copycat se posiciona ao lado de títulos como “Stray” e “Night in the Woods”, mas com uma abordagem muito mais intimista e voltada ao emocional, convidando o jogador a refletir sobre temas como lar, abandono e a busca por aceitação.
UMA HISTÓRIA SOBRE PERDER E ENCONTRAR O LAR
A narrativa de Copycat acompanha Dawn, uma jovem gata recém-adotada por Olive, uma senhora solitária que vive com memórias de sua antiga companheira felina. O início é reconfortante, Dawn explora a casa, desenvolve um vínculo com sua nova dona e descobre o que significa ser querida.
Mas, o jogo rapidamente muda de tom quando a antiga gata de Olive retorna inesperadamente e Dawn é rejeitada sem cerimônia — um ato de abandono silencioso e cruel que a empurra para as ruas. A partir daí, a história deixa de ser apenas sobre uma gata e se transforma em um espelho de experiências humanas de exclusão, desenraizamento e solidão.
A força da narrativa está em sua simplicidade, não há reviravoltas forçadas ou exposição excessiva. Tudo é sentido e percebido através das ações, das interações com o mundo e dos pequenos detalhes do cotidiano de Dawn, onde a ausência de diálogos falados é substituída por um design emocional poderoso, capaz de comunicar sentimentos com uma clareza surpreendente.
O jogo evita o melodrama e, ainda assim, toca em questões profundas com naturalidade, como o medo da substituição, a perda da identidade, o instinto de sobrevivência e, finalmente, o processo de reconstruir um sentido de lar.
Uma ótima reflexão para aqueles que admiram narrativas silenciosas, que tocam o coração com perfeição.
DESCOBRINDO O MUNDO PELAS PATAS DE DAWN
Copycat oferece uma jogabilidade leve, mas bem contextualizada com sua proposta narrativa. Os comandos são simples e focados na exploração em terceira pessoa, com interação com objetos, ambientes e outros animais.
As ações disponíveis, como se esconder, caçar, brincar ou simplesmente se deitar, são carregadas de simbolismo e ajudam a transmitir as emoções da protagonista sem precisar de palavras.
Há momentos de jogabilidade mais ativa, como sequências de plataforma, furtividade e QTEs (Quick Time Event), que dão ritmo à progressão sem quebrar o tom introspectivo do jogo. Essas mecânicas funcionam mais como ferramentas narrativas do que como desafios tradicionais, o que pode frustrar jogadores em busca de ação, mas encanta aqueles que priorizam envolvimento emocional.
A curva de progressão é majoritariamente linear, mas o jogo permite pequenas explorações e descobertas opcionais, o que reforça a sensação de liberdade e sobrevivência quando Dawn está nas ruas.
É notável o cuidado com a ambientação ao permitir que o comportamento de Dawn mude conforme o ambiente, e suas ações refletem seu estado emocional, algo raro e louvável em jogos com protagonistas não-humanos.
UM MUNDO QUE MISTURA REALISMO E ONIRISMO
Visualmente, Copycat apresenta um estilo artístico marcante, que equilibra realismo cartunesco com sequências de sonho estilizadas em low-poly. O jogo utiliza bem a iluminação para criar atmosferas distintas entre o conforto da casa, a hostilidade das ruas e os momentos oníricos, onde a subjetividade emocional de Dawn ganha forma.
As animações são suaves e expressivas. Cada gesto de Dawn — do arquejar do corpo ao som sutil de um miado — carrega intenção e personalidade. Mesmo sem falas, ela é uma personagem rica e empática.
A trilha sonora reforça o tom emocional, com composições suaves que variam entre o melancólico e o reconfortante. Instrumentos como madeira, cordas e sons tribais são usados para conectar o jogador às raízes instintivas do personagem, enquanto os efeitos sonoros contribuem com naturalidade para a imersão.
O jogo tem alguns problemas técnicos pontuais, como quedas de desempenho e colisões imprecisas em determinadas áreas, mas nada que comprometa significativamente a experiência geral.
UM MIADO DE SOLIDÃO ANSEIA POR UM ABRAÇO DO RECOMEÇO
Copycat é um jogo que não tenta agradar a todos, e é justamente por isso que se torna tão especial.
Sua proposta é sensível, sua execução é sincera, e sua entrega emocional é rara no cenário atual dos jogos independentes. Ele não busca grandiosidade gráfica ou sistemas complexos, em vez disso, aposta em algo mais difícil de alcançar, uma resonância emocional autêntica.
É uma experiência recomendada para quem aprecia jogos com forte carga narrativa, especialmente aqueles interessados em histórias que exploram relações interpessoais (e interespécies) de maneira não convencional. Não se trata apenas de jogar com um gato, mas de sentir como é ser um, com tudo que isso representa.
Se você já se sentiu deslocado, rejeitado ou teve que reaprender a confiar em outros, Copycat vai tocar em algo muito pessoal e fazer isso com a doçura silenciosa de um miado no fim da tarde.
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- 26 de setembro de 2024
- 9.0Total Score
Uma experiência sensível e contemplativa que transforma silêncio em significado, conduzindo o jogador por uma jornada de empatia e autodescoberta.