
A cada novo ciclo, uma artista desperta e, com um único gesto, ela apaga vidas como se desfizesse os traços de uma tela. Em Clair Obscur: Expedition 33, ninguém envelhece, ninguém adoece, eles simplesmente deixam de existir, sendo riscados pela Artífice no seu monólito, onde o número pintado decide quem vive e quem desaparece.
No próximo despertar, o número será o 33 . . .
É nesse mundo onde o tempo não passa, apenas se consome, que a Expedição 33 parte em sua última missão, para destruir a fonte desse ciclo antes que ela apague todos que restam. Você não joga para vencer, joga para quebrar a própria lógica da existência.
Clair Obscur: Expedition 33 convida você a mergulhar em uma jornada tão bela quanto desesperadora, onde o combate é ritmo, a arte é dor, e o tempo é o inimigo final.
Um Mundo Pintado com Beleza e Medo
É difícil chamar de “lindo” um mundo onde cada paisagem carrega o peso da ausência, mas Clair Obscur: Expedition 33 conseguiu transformar o vazio em poesia visual.
Inspirado na Belle Époque da França, o jogo constrói cenários surreais que parecem existir entre o sonho e o fim do mundo, onde a arte não apenas decora, mas define a própria realidade.
A Ilha de Visages, com suas formas esculpidas em pedra viva, evoca uma sensação de reverência melancólica. Já o Campo de Batalha Esquecido, como o próprio nome sugere, é uma cicatriz aberta em um mundo que já aceitou o colapso.
As cores são vibrantes, mas carregam um tom de luto e as estruturas, belas, mas vazias de esperança. Tudo parece ter sido pintado à mão com muito cuidado e depois abandonado para sempre.
Esse contraste entre a estética delicada e o tema da aniquilação iminente é o que dá alma ao universo do jogo. Cada ambiente que você percorre não apenas alimenta a curiosidade, mas também reforça a urgência.
Este é um mundo que está acabando, mesmo enquanto você o explora . . .
Em vez de apostar em realismo ou excesso de efeitos, Expedition 33 abraça o simbolismo. Aqui, o design do mundo não é só plano de fundo, ele expressa sua linguagem. Um idioma visual que fala de perda, resistência e da beleza frágil que existe entre um número e o próximo.
Quando o Tempo Decide Quem Ataca
Em Clair Obscur: Expedition 33, os combates acontecem em turnos, mas ninguém te avisa quando precisa respirar ou atacar.
O sistema de batalha mistura estratégia com reflexos em tempo real, criando uma experiência que mantém o cérebro planejando enquanto os dedos precisam reagir. Aqui, cada ação é deve ser estratégica, mas também sentida e emprovisada.
A base do combate remete aos clássicos JRPGs, onde há ordem de turnos, habilidades específicas de cada personagem, vantagens elementares e sinergias entre os membros da equipe. Mas, é no instante em que o inimigo ataca que o jogo revela sua identidade única.
Você precisa se mover, defender, esquivar e até mirar nos pontos fracos — tudo isso no seu turno e no do inimigo também.
Esse ritmo híbrido faz com que cada luta ofereça uma “Action” dentro do RPG. Você não está apenas assistindo comandos serem executados, está dentro da luta, prestando atenção nos padrões, nos sons e nas animações para reagir com precisão.
É como se o turno fosse uma tinta viva e você precisa aprender a pintar cada detalhe da batalha com ela.
Os comandos não exigem domínio técnico extremo, mas são exigentes o bastante para manter a adrenalina elevada, especialmente em chefes com habilidades mais complexas. E quando você erra, sente o impacto, não como punição, mas como parte da dança trágica entre a vida e desaparecimento.
Além disso, há um sistema de mira livre que permite direcionar ataques com precisão para pontos críticos do inimigo, algo que adiciona uma camada extra de controle e recompensa para quem observa o campo de batalha com atenção.
É nesse detalhe que o jogo se distancia de comparações fáceis e se estabelece como um RPG de autoria, onde o combate também conta sua história.
Rostos que sabem que vão Desaparecer
Não existem heróis imortais em Clair Obscur: Expedition 33, cada personagem que acompanha Gustave na missão carrega no olhar a consciência do fim, não como uma possibilidade, mas como uma certeza prevista.
Eles sabem que a próxima pincelada da Artífice os apagará e, é justamente isso que os torna tão humanos . . . ainda.
Gustave, o protagonista, não tenta ser um messias, ele carrega a dor, a dúvida e a responsabilidade de liderar uma expedição que não sabe se terá volta. Ao seu lado, Maelle e os outros membros da equipe não são arquétipos rasos, cada um deles tem seus próprios medos, cicatrizes e razões para continuar.
Suas histórias não são apenas pedaços de texto, são reveladas em diálogos sensíveis, interações naturais e escolhas que ressoam com o jogador.
É nesse espaço emocional que o jogo brilha, onde, em vez de transformar seus personagens em símbolos de esperança, ele os apresenta como pessoas reais tentando encontrar sentido diante do fim.
Algumas conversas surgem em momentos inesperados, durante caminhadas ou pausas entre batalhas. Outras, em registros deixados pelas expedições anteriores, como memórias que ajudam a entender o peso do legado que cada um carrega.
A intimidade com os Expedicionários cresce aos poucos, mas com consistência e, quando você passa a conhecê-los, não sente apenas vontade de protegê-los, sente vontade de ouvir o que eles têm a dizer antes que virem cinzas do passado.
Esses personagens não lutam apenas contra monstros, lutam para serem lembrados e, é exatamente o que os torna inesquecíveis.
Cada Cor tem Som, Cada Som tem Dor
Em Clair Obscur: Expedition 33, nada esta ali por acaso, nem uma pincelada e nem uma nota isolada. A direção de arte não busca realismo, e sim expressão, onde tudo no jogo parece ter sido criado para fazer você sentir antes mesmo de entender toda a sua complexidade.
Os cenários, iluminados por uma paleta entre o etéreo e o sombrio, lembram quadros que capturam a beleza do fim. O uso da Unreal Engine 5 não está ali para mostrar poder técnico, e sim para dar vida a um mundo que parece pintado com delicadeza e dissolvido com violência.
Texturas flutuam como poeira de um tempo que se recusa a ficar apenas nas memórias do passado. As paisagens se deformam de maneira quase orgânica, como se o mundo estivesse sendo reescrito em tempo real . . . ou se apagando diante dos nossas olhos.
Essa estética, ao mesmo tempo bela e inquieta, encontra seu reflexo perfeito na trilha sonora.
Composta para tocar o que não se pode dizer, a música guia emoções sem dominá-las completamente. Ela surge suave quando os personagens conversam, cresce com o desespero nas batalhas, e se cala nos momentos certos, permitindo que o silêncio diga mais do que qualquer melodia.
É como se cada ambiente tivesse um som próprio, não apenas uma trilha, mas uma alma intensa de ruídos armonizantes.
A música não empurra a narrativa, ela a acompanha, como um suspiro preso na garganta. Juntas, a arte e a trilha criam uma atmosfera onde cada detalhe contribui para um sentimento coletivo de urgência, nostalgia e reverência àquilo que está prestes a acabar.
Em vez de deslumbrar com exageros, Expedition 33 comove com equilíbrio, entendendo que a arte mais poderosa é aquela que sabe quando se calar e, nesse silêncio, nos fazer escutar o inevitável — a nós mesmos.
Quando o Jogo Fala Sobre o Fim — E o Que Vem Depois
Há jogos que querem entreter, outros querem desafiar, mas Clair Obscur: Expedition 33 quer perguntar . . . O que você faria se soubesse que este é seu último ano ou como você usaria seus últimos dias sabendo que nada pode parar o fim?
O jogo não te entrega respostas prontas, apenas coloca os personagens, e o jogador, frente a frente com a inevitabilidade. E nesse confronto, revela que não há vitória contra a morte, mas há sentido no que fazemos até ela chegar.
A narrativa não finge esperança, mas também não se rende ao desespero.
Ela caminha em equilíbrio, valorizando o ato de resistir mesmo diante do impossível. A jornada da Expedição 33 é sobre enfrentar o fim de uma história que ainda quer ser contada, mas que é evitada por todos.
Em momentos sutis, o jogo lança reflexões sobre legado, memória, escolhas e conexões humanas. E o mais curioso é que ele nunca diz isso diretamente, ele sugere, simboliza, pinta e borda na sua cara.
O jogador é levado a completar o quadro com suas próprias emoções, suas próprias respostas. Nesse ponto, Expedition 33 deixa de ser só um RPG para se torna um espelho, não da morte, mas da vida que ainda temos antes dela.
Ao final da jornada, o que fica não é apenas o combate memorável ou a arte deslumbrante. Fica a pergunta . . . o que fizemos com o tempo que nos foi dado?
E, talvez, a vontade de fazer mais . . . enquanto ainda somos lembrança e não fumaça.
Um Jogo Pintado para ser Sentido
Clair Obscur: Expedition 33 não é um jogo de respostas fáceis, nem de vitórias gloriosas.
Ele não quer ser lembrado por inovações técnicas, mesmo que as tenha. Ele quer ser lembrado por aquilo que faz o jogador sentir e, nesse aspecto, ele acerta com a mesma precisão de quem assina sua obra-prima final.
Com um sistema de combate inteligente, personagens que tocam, uma direção de arte poética e um mundo que parece escorregar por entre os dedos, o jogo da Sandfall Interactive não tenta agradar todos, ele fala diretamente com quem busca seu significado mais profundo.
É o tipo de obra que pode passar despercebida por quem corre atrás de velocidade, hype ou espetáculo.
Mas, para quem parar e ouvir, Expedition 33 sussurra verdades que poucos jogos têm coragem de encarar — e isso, por si só, já é um legado precioso, para distinguir.
Para mais informações, siga nossas Redes Sociais ou visite o Site Oficial de Clair Obscur: Expedition 33!
- 0 Comment
- Games
- 30 de maio de 2025
- 9.5Total Score
Clair Obscur: Expedition 33 emociona com uma direção de arte sublime, combate visceral em turnos dinâmicos e uma narrativa que ousa questionar o sentido da existência.
Há falhas pontuais de ritmo e eventuais excessos dramáticos, mas não ofuscam a ousadia de um RPG que marca, provoca e, acima de tudo, desafia seu íntimo.